quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

José Adalberto Ferreira – Estímulo e Pra que tanta riqueza se a pessoa, nada leva daqui pra sepultura?

José Adalberto Ferreira nasceu aos 25 de junho de 1962, no sítio Juá, município de Itapetim, Pernambuco. Publicou em 2005 o versátil livro de poesias “No Caroço do Juá”. Sempre residiu em seu torrão natal, e talvez por isso reconheça tão facilmente os valores e as belezas do seu Pajeú. Mas seu poetar diversificado não o impede de passear por todos os temas e motes. Logo de início em seu livro encoraja quem ainda não revelou seus escritos, e que não abra mão do seu direito, sem medo do julgamento dos doutores e entendidos, a plêiade. Como já disse um irmão meu, corroborando com Zé Adalberto, “o melhor elogio é um incentivo!”.


ESTÍMULO

Sem subestimar a praxe
Que leva a pedir licença
À plêiade que melhor pensa
Ainda que a crítica ache
Que o escritor anônimo
Não legitime o sinônimo
Nem possua os requisitos
De quem escreve perfeito
Não abra mão do direito
De publicar seus escritos.

A História é que revela
Época, lugar, perda e glória
Melhor que fazer história
É ser personagem dela
A oratória se apaga
Mas a impressão da saga
Conserva seu conteúdo
Ainda que desbotado
Num compêndio empoeirado
Virará fonte de estudo.

Quem não se divulga, sobra
Assim, dê seu testemunho
É de um pequeno rascunho
Que nasce uma grande obra
Seu estro, não o desvie
Inove, resgate, crie
Sem se curvar às barreiras
Impostas à poesia
Siga a nossa Antologia
Atravessando fronteiras.

José Adalberto Ferreira


Em mais uma mostra do seu talento, o poeta José Adalberto glosa o mote “Pra que tanta riqueza se a pessoa / Nada leva daqui pra sepultura?”. Ótima pergunta, poeta!


PRA QUE TANTA RIQUEZA SE A PESSOA
NADA LEVA DAQUI PRA SEPULTURA

Muitas vezes, sozinho, eu pergunto:
Pra que tanta riqueza, se depois
Que o caixão encostar e couber dois
O amigo melhor não quer ir junto?
Pra que cara fragrância se o defunto
Não exige perfume da “natura”?
Mesmo a alma é cheirosa quando é pura
Mas o cheiro do corpo ainda enjoa.
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que casa cercada por muralha?
Se a cova é cercada pelo pranto.
Se pra Deus, todos têm do mesmo tanto
Tanto faz a fortuna ou a migalha.
Pra que roupa de marca, se a mortalha
Não requer estilista na costura?
Se o cadáver que a veste não procura
Nem saber se a costura ficou boa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu me esconder detrás de um pão
Se a miséria não bate em minha porta?
Pra que eu me cansar regando horta
Se amanhã ou depois já é verão
Pra que eu confiar no coração
Sem saber quanto tempo à vida dura
Se a ferida da alma não tem cura
Quando é a ganância que a magoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Não sou dono de ônibus nem de trem
Mas enquanto eu puder me locomovo
Pra que eu invejar um carro novo
Se o transporte final nem rodas tem?
Nem me avisa dizendo quando vem
Mas só anda na minha captura
Bem abaixo da sua cobertura
Ele tem quatro asas, mas não voa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu inventar de ser afoito
Se eu não tenho coragem pra vencer?
Pra que eu comprar queijo sem poder
Se na mesa tem pão, ovo e biscoito?
Pra que eu colocar um trinta e oito
Entupido de bala na cintura
Se a razão é a arma mais segura?
Ter sossego é melhor que ter coroa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu toda hora dar balanço
No que tenho ou andar atrás de bingo?
Pra que tanta hora extra no domingo
Se Deus fez esse dia pro descanso?
Pra que eu trabalhar igual boi manso
Se a chibata do dono me tortura?
Pra que eu reclamar da minha altura
Se o que a mão não alcança, Deus me doa?
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu com dois olhos na barriga
Se os da cara já são suficientes?
Pra que eu invejar os meus parentes
Se já sei que o retorno é uma intriga?
A formiga que evita ser formiga
Cria asas, se torna tanajura
Cresce a bunda demais, cria gordura
Fica muito pesada e cai à toa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Deus me dando o arroz e o pilão
È preciso que eu saiba despolpá-lo
Pra depois de cozido eu mastigá-lo
Sem roubar o suor do meu irmão.
Eu confesso que vivo na fartura
Se tiver feijão preto e rapadura
Encho tanto a barriga, chega zoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu ter mansão no litoral
Se um rancho está bom num pé de serra
Se eu fizer prédio alto aqui na Terra
Lá no Céu, vai faltar material
Meu ensino maior foi o Mobral
Os meus livros têm sido a Escritura.
Pra que eu aprender literatura
Se a palavra de Deus me aperfeiçoa?
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

José Adalberto Ferreira

12 comentários:

  1. José Adalberto Ferreira21 de março de 2010 às 21:51

    Meu caro poeta, meu muito obrigado pela importante divulgação do caroço do Juá.

    Abraço!!!

    ResponderExcluir
  2. José Adalberto Ferreira21 de março de 2010 às 21:52

    Meu caro poeta, meu muito obrigado pela importante divulgação do caroço do Juá.

    Abraço!!!

    ResponderExcluir
  3. Obrigado, você, poeta, pela visita!

    E parabéns por seu belo trabalho, conterrâneo pajeuzeiro!

    Forte abraço!

    ResponderExcluir
  4. ""PARABÉNS PELO MARAVILHOSO TRABALHO, UM ÍCONE DA POESIA NORDESTINA, FIQUE NA PROTEÇÃO DE DEUS E MUITO SUCESSO.""

    ResponderExcluir
  5. José Adalberto virei um grande fã seu quando lha vi no balaio cultural
    Não cheguei perto perto de vc por que achei que iria me arrepiar
    Quando DEUS disse eu vou voltar pensei logo que DEUS era você
    Mim desculpe mas eu ter que dizer ai minha Mae, padre o pastor
    ao meu bebê ,e ao meu pai que agora é avô que DEUS não morreu ele esta vivo, eu vi ele no balaio cultural, José Adalberto você é uma figura genial que DEUS te proteja a vida inteira.

    ResponderExcluir
  6. Estive na região do Pajeu entre os dias 26/30 deembro de 2011. Em São José do Egito, visitei o sebo, onde pude adquirir algumas obras dos poetas da região. Confesso, voltei maravilhado co tudo o que vi, ouvi e li. Mas não posso negar que estou encantado com o CD Edmilson Ferreira e Antonio Lisboa cantam Zé Adalberto. Quero destar dois poemas: Calo Seco é Anel de }Formatura e Um poeta adotado, Outro Nascido. Esses dois trabalhos, por si só,revelam a punjança deste poeta extraordinário, que eu destaco numa expressão sua: "é tão popular quanto erudito". Um abraço, poeta gigante,seu trabalho é digno de louvor. Edmilson Frnco, da Academia Imperatrizense de Letras - Imperatriz-Ma ( 99 - 99772475. email. dredmilsonfranco@homail.com

    ResponderExcluir
  7. sinceramente as palavras vem a faltar diante dessa genial obra de Zé.

    lindo de mais poeta!

    ResponderExcluir
  8. Pra que tanta riqueza se a vida
    Vai um dia ter fim do mesmo jeito
    A vitória é no céu se for aceito
    Todos temos por certo a partida
    Mesmo tendo fortuna não é dividida
    Não importa se foi rico a criatura
    É feliz se chegar lá nas alturas
    Pra que tanta riqueza se a pessoa
    Nada leva daqui pra sepultura?

    ResponderExcluir
  9. Pra que eu querer ser o que não sou?
    Se Deus fez sua imagem semelhança
    Pra eu vê o nascer de uma criança,
    Alegria nos olhos de quem doa
    Pra que eu me enganar chorando a toa?
    Quando sei que Deus sempre me perdoa
    Pra que tanta riqueza se a pessoa nada leva daqui pra sepultura?

    ResponderExcluir
  10. Meu Deus! Quanta riquezas!!!parabéns poeta.
    Obrigado, muito obrigado meu Deus, por eu estar viva para ver tantas maravilhas!!!🙏🙏🙏🙏🙏👑👑👑👏👏👏👏❤❤❤❤

    ResponderExcluir