quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Diniz Vitorino - Quatro Sonetos (Transformação, A Velhice, Adeus e Será Justo)

Diniz Vitorino é natural de Lagoa de Monteiro, Paraíba. Segundo o autor de “Nordeste Independente”, Ivanildo Vila-Nova, Diniz é o maior de todos os cantadores. Unanimidade é considerá-lo além de grande cantador, também um grande escritor. Publicou livros de poesias, romances e cordéis. No prefácio do  “Oásis Enluarado”, de Diniz, Orlando Queiroz diz: “O Tempo da Poesia Popular Nordestina, que teve Diniz Vitorino como seu principal construtor, agora o tem como arquiteto, para concluir a obra com maestria, dando-lhe um refinado toque de beleza.” Desse mesmo livro, onde encontramos belos sonetos, líricos, queixosos, saudosos, e por vezes, indignados, selecionei estes quatro para o deleite poético de todos nós:


TRANSFORMAÇÃO

Se o momento é cabível para o gozo,
Frui as glórias que a vida te oferece.
Pois nem sempre o teu sol será brilhoso
E o fulgor do teu céu desaparece.

Jamais penses que o rio que hoje cresce
Cristalino, abundante e caudaloso,
Seja eterno, não seca, permanece
Perenal, romanesco, impetuoso.

Que aproveites o cheiro fascinante,
Que se evola da pluma aconchegante
Do lençol de cristal da tua aurora.

Se esmagares nos pés teus madrigais,
Com certeza amanhã tu não terás
O que tanto tens hoje e jogas fora.

Diniz Vitorino


A VELHICE

Exaustiva e penosa trajetória,
Missão árdua por nós quase cumprida.
Velha culta que esconde na memória
Efêmeras imagens de uma vida.

Documento perfeito duma história,
Pelo tempo contada e definida.
Resgate da dívida compulsória
Que há décadas atrás foi contraída.

Conta estúpida, perversa e esquisita,
Que com juros o mundo deposita,
Nos extratos da vida da pessoa.

Débito alto, guardado em seus arquivos,
No caderno dos saldos negativos,
Que o gerente do tempo não perdoa.

Diniz Vitorino


ADEUS

Se me enxotas, mulher, eu parto, já é hora.
Não me humilhes no pranto da partida,
Pois o maior desespero de quem chora,
É não ter sua dor reconhecida.

Minha lágrima é de amor, nasceu agora!
Mas a tua depois será nascida.
Quanto mais escondida ela demora,
Mais será lacrimosa a tua vida.

Os teus remorsos virão! Eu não sei quando.
Haverás de lembrar de mim chorando,
Eu também chorarei sem ti na cama.

Tua lágrima externa falsidade,
Mas as minhas são gotas de saudade,
Jamais secam, nos olhos de quem ama.

Diniz Vitorino


SERÁ JUSTO?

Esse velho infeliz que desmaiou!
Sem pousada, sem pão, sem agasalho,
Removeu mil montanhas, perlustrou
Pela íngreme vereda do trabalho.

Calejando as mãos magras semeou
Pólen fértil no ventre do cascalho.
Fecundou abundâncias e não passou
Dum fantoche vagante, um espantalho.

Será justo, meu Deus, que esse irmãos
Cavem terras adustas, plantem grãos,
Colham frutos nas glebas esquisitas,

Fartem mesas de loucos indiscretos,
Envelheçam e morram como insetos,
Esmagados nos pés dos parasitas?

Diniz Vitorino

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